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OS EFEITOS DE MANDRÁGORA OU TANTO DÁ ATÉ QUE FURA

 

Os antigos atribuíam à mandrágora propriedades afrodisíacas e outras virtudes mágicas. Na Alemanha desde o tempo dos Godos, mandrágora significa ao mesmo tempo bruxa e raiz. Maquiavel deu o titulo de Mandrágora a uma das suas peças onde o emprego desta erva era considerado como bom para tornar fecundas as mulheres estéreis e esta mesma idéia aparece numa comedia grega de Aléxis, em que se alude ao poder de fecundidade que dá aquela planta. Segundo a lenda a árvore do paraíso era uma Mandrágora. E foi o que se viu. Todos acreditavam ver nesta árvore a forma humana, quer de homem quer de mulher, e, segundo Plínio a primeira era branca e a segunda era negra. O poder maléfico da Mandrágora era tal que não podia ser arrancada diretamente, para o que se empregava um cão a cuja cauda se atava à planta chamando depois, o dono, o animal que ao correr a arrancava pela raiz. Mesmo assim, convinha antes fazer três círculos à volta da erva. Na Europa, em alguns paises, a planta é considerada como uma feiticeira, ou como uma fada. O Santo Ofício queimou algumas almas porque elas tinham mandrágoras em casa. Não percebo qual a dúvida em culpar esta “seita” que foi agora descoberta por utilizar a mandrágora. Eu não sou do tempo dos Godos nem dos Romanos, posso todavia confirmar que a poção servida pelos rapazes que “utilizaram” a “mandrágora” nos últimos vinte anos deixaram muitas mulheres fecundas e puseram muitos padres com vontade de os mandar queimar. Isto só por si dá razão a quem considera aquela raiz uma poção mágica, que quando bem utilizada tem efeitos terríveis e devastadores nas mentes dos homens e das mulheres que “inalam” semelhante produto. Juro pois perante as altas instancias desta tribo à beira mar plantada que tal “pasquim” deve ser imediatamente proibido e os seus feitores desterrados para Hades para que com as suas aleivosidades licenciosas não continuem a prejudicar a sã juventude deste torrão. Mais afirmo que as copias das peças que os réus tiveram o desplante de apresentar a público, AUGA, ANTÓNIO MARIA LISBOA, CESARINY, FRANKENSTEIN e outras sejam reduzidas a pó em almofariz de prata e lançadas à profundeza das chamas donde jamais deveriam ter saído. Quanto ao cão que os rapazes costumam utilizar para arrancar as Mandrágoras pela raiz, que a besta seja perdoada porque ele só respondeu ao assobio dos donos, e que o mesmo seja entregue ao Santo Canil da Misericórdia onde deverá ser vigiado, não tenha no entanto aprendido com os donos a escrever, ou a praticar outros actos malfazejos.

Lisboa, tantos do tal de mil novecentos e noventa e tal

A Testemunha a Ferros

 

Victor Belém (Cascais 1938 – 2015)

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